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Expresso
Com a quebra no consumo do petróleo, o mundo está a emitir menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono por dia. E tudo isto devido ao Covid-19. A Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou esta semana um relatório que indica que a procura global de petróleo deve contrair-se este ano pela primeira vez desde 2009.
De que a pandemia está a ter impacto no ambiente não há dúvidas. Só na China, local onde o novo coronavírus emergiu, houve, nos últimos meses, uma quebra de 25% nas emissões de CO2 devido às fábricas que encerraram na província de Hubei. Se esta tendência continuar, escrevia o editor de ambiente do “Guardian”, Jonathan Watts, há duas semanas, as emissões mundiais podem cair para valores de 2008/09, antes da crise financeira.
Mesmo a redução drástica das deslocações casa-trabalho e trabalho-casa, um pouco por toda a Europa, não são de descontar na equação. “A ideia de que precisamos de nos deslocar, todos os dias, para um local central para trabalhar pode ser resultado de inércia, mais do que qualquer outra coisa. Confrontados com a necessidade real de nos deslocarmos por via do rato [do computador], em vez do carro, talvez descubramos que os benefícios de flexibilidade laboral se estendem a tudo, desde o consumo de gasolina à necessidade de grandes parques de estacionamento nos escritórios”, disse o ambientalista norte-americano Bill McKibben ao diário britânico.
Todavia, se é verdade que as emissões – ao nível industrial e da aviação – estão a cair a pique, o aumento do consumo energético dos cidadãos que estão de quarentena pesa também na balança das emissões. “Se vens para uma casa fria e tens de a aquecer, isso vai implicar custos que, em média, não vão compensar a poupança de não ter de conduzir para o trabalho”, explicou Christopher Jones, especialista em políticas climáticas da Universidade da Califórnia, à revista “Scientific American”.
Aviação. Novos limites nas emissões de CO2
Uma coincidência: em 2016, as Nações Unidas determinaram que o limite que seria imposto às emissões de carbono em voos internacionais teria como base os valores registados no ano de 2020. A expectativa era de a que as companhias aéreas continuassem a crescer – e emissões de CO2 também, claro – e fosse estabelecido assim um teto; desde 2013, as emissões aumentaram 26%, note-se.
Ora, devido ao Covid-19, quase há décadas que não existiam tão poucos aviões no ar, e as emissões eram tão baixas, nota o “Independent”. O tráfego aéreo mundial caiu 4,3% em fevereiro; na China, o número foi mais radical: 70%.
A pandemia fez cair de forma significativa o volume médio de emissões de CO2. O número de aviões no ar – pelo menos ao nível europeu – é mínimo. “Um possível resultado benéfico do vírus, se conseguirmos ver alguma luz nesta tragédia, é que a linha de base [determinada pela ONU] é 2020 e, neste momento, a aviação é uma espécie de linha-plana”, disse Katherine Kramer, responsável pelas alterações climáticas na associação Christian Aid, no Parlamento britânico, esta quarta-feira.
Ou seja, quando se chegar ao final do ano, se não houver nenhuma mudança no calendário das Nações Unidas, a “linha de base de emissões será muito mais baixa” do que era esperado há quatro anos, explicou. Recorde-se: a aviação é um dos setores que mais contribui para as alterações climáticas: em 2018, voos domésticos e internacionais emitiram cerca de 895 milhões de toneladas de CO2.