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O sonho adiado dos carros autónomos
Expresso


Este seria o ano em que os carros finalmente dispensariam condutores humanos, mas a tecnologia ainda não contornou todos os obstáculos para poder ser atirada à liberdade feroz de uma estrada. A ideia remonta a 1939, quando, na Feira Mundial de Nova Iorque, a General Motors apresentou um sistema automatizado de vias, por onde os automóveis circulariam conduzidos por automatismo.

Sebastian Thrun, antigo investigador da Google e professor de computação na Universidade de Stanford, adianta ao Expresso que, apesar de o carro autónomo já não representar maquinaria à imagem dos livros de ficção científica, “a pandemia tornou impossíveis os testes nas estradas, e o sector perdeu dois meses de experiências”. Sebastian

Thrun acredita, contudo, que a covid-19 tornou o automatismo mais relevante: “Estes carros proporcionam às pessoas a possibilidade de serem transportadas sem um ser humano atrás do volante. Significa isto que, se ocorrer outra pandemia, são veículos mais seguros do que os táxis.”

Os custos operacionais das empresas de produção industrial são altos, pelo que uma fatia considerável de fabricantes norte-americanos está parada. A Argo, uma empresa de software e hardware de carros autónomos, partilha com o Expresso que está “a trabalhar com as autoridades de cidades nos EUA onde serão realizados testes para traçar um plano que respeite a saúde dos funcionários e a segurança da comunidade”.

Vítor Santos, investigador de robótica da Universidade de Aveiro, garante ao Expresso que “a componente de software, da simulação da inteligência artificial, continua a ser trabalhada remotamente”. No entanto, para testar o hardware, é necessário haver duas pessoas dentro do carro, o que não é desejável em tempos de pandemia. Ir para a estrada continua a ser fundamental, assinala o professor. “Para um carro automaticamente descobrir a via, os peões, os carros e a sinalética, utiliza câmaras ou lidares [radares com luz]. As informações têm de ser adquiridas em cenário real, para treinar as unidades de inteligência artificial.”

Há conjuntos de dados disponíveis em todo o mundo, mas os carros inteligentes serão mais seguros quantas mais informações detiverem. “Um aluno meu está a recolher imagens panorâmicas para ter uma perceção de 360 graus em tempo real”, relata o professor. Os carros em que Vítor Santos trabalha não são autónomos, mas “instrumentados, e têm capacidade de perceção e de análise; um já consegue virar o volante e desacelerar, a partir de comandos do computador”.

A coexistência de carros autónomos e carros guiados por humanos é um problema “complexo”. Também por isso os carros autónomos não serão produto de 2020, reconhece Vítor Santos. “Muitos carros já avisam na proximidade de uma berma e até estacionam sozinhos, mas um sistema completo que ande sozinho na estrada, evite atropelamentos e otimize consumos é ainda muito complexo. Agora já se coloca em cima da mesa a data de 2025... Foi o que aconteceu com o homem na Lua, é sonhar e perseguir o sonho.”