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Jornal de Negócios
"Ele não está a 'vender' o Carlos, e não quer isso", disse Jim Press, executivo do setor automóvel que trabalhou com Tavares quando este comandava as operações na América do Norte da Nissan. "Ele desenvolve pessoas e organizações. É um grande empresário".
As "raízes" nas corridas
Tavares mostrou a sua paixão precoce quando foi voluntário, aos 14 anos, no circuito do Estoril perto de Lisboa, onde nasceu e cresceu. Desde então competiu em mais de 500 provas como piloto amador e disse que se tornou engenheiro porque não tinha o talento e o dinheiro para ser piloto profissional. Ele devia ter conduzido um Lancia Stratos num rali anual no Mónaco este mês, mas a prova foi cancelada devido à pandemia.
Após se licenciar numa das mais prestigiadas faculdades de engenharia em França, Carlos Tavares começou a sua carreira na Renault em 1981. Liderou por dois anos as operações da parceira Nissan na América do Norte antes de se tornar o número 2 de Carlos Ghosn na Renault, em 2011.
Numa "jogada de poder" invulgar, o gestor português disse à Bloomberg News em 2013 que, uma vez que Ghosn planeava continuar, estaria interessado em liderar a General Motors ou a Ford. Deixou a Renault semanas após estas declarações e, seis meses mais tarde, assumiu o leme da PSA, então quase falida.
O Estado francês e a chinesa Dongfeng Motor resgataram a PSA acorrendo a uma oferta de ações e num aumento de capital de três mil milhões de euros. Tavares encolheu a gama de modelos, cortou custos e aumentou os preços dos veículos. Resultado? A PSA apresentou o seu primeiro lucro anual em três anos.
Aplicou a mesma estratégia com a Opel/Vauxhall, as marcas adquiridas à GM pela PSA em 2017 e que acumulavam cerca de 16,5 mil milhões de euros de perdas em duas décadas. Ao cortar as despesas de desenvolvimento e reduzindo milhares de postos de trabalho através de negociação, rapidamente conduziu a marca alemã aos lucros.
"O fator Tavares foi provavelmente o mais subavaliado" no plano de recuperação da PSA em 2014, disse Stephen Reitman, analista do setor automóvel da Société Génerale. "A Opel/Vauxhall foi vista como talvez um passo demasiado grande, mas ele provou que argumentando e reunindo com as pessoas elas reconsideraram as suas posições que contribuiram para 20 anos de perdas".
Esses talentos negociais foram postos à prova rapidamente, quando Tavares se reuniu com os líderes sindicais italianos sobre o impacto da fusão no emprego nas fábricas da Fiat Chrysler em Itália.
Como líder da Stellantis, o gestor português terá de lidar com acionistas dinásticos - os Agnellis, liderado pelo "chairman" da nova empresa, John Elkann, e os Peugeots - e a política terá um papel determinante. O Estado francês vai manter uma participação na nova empresa e o governo italiano já deu sinais de que poderá também adquirir uma posição no capital da Stellantis.