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Cresce a pressão pela abertura de fronteiras a turistas brasileiros: “E Portugal? Não faz nada?”
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As restrições à entrada em Portugal de passageiros provenientes do Brasil permanecem inalteradas, apesar do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, ter anunciado no início do mês de agosto que existiam conversações entre os dois países para aligeirar algumas dessas restrições e, apesar de países como Alemanha, França e, mais recentemente, Espanha, já terem aliviado as medidas para a entrada de brasileiros.

Em Espanha, por exemplo, os viajantes provenientes do Brasil com vacinação completa podem entrar no país desde que apresentem certificado de vacinação (mínimo 14 dias da última dose da vacina). As vacinas aceites são: Pfizer-Biontech, Moderna, Astra-Zeneca, Jansen/Johnson&Johnson, Sinovac/Coronavac e Sinopharm.Quem não estiver vacinado, deverá apresentar teste negativo de Covid-19 realizado 72 horas antes da chegada a Espanha ou teste de antígeno realizado 48 horas antes da chegada ou certificado de recuperação.

Por sua vez, emPortugal os passageiros provenientes do Brasil só podem viajar para Portugal por razões familiares, profissionais, de estudo ou humanitárias, caso contrário têm de apresentar um teste negativo à covid-19 e têm de cumprir um período de quarentena.

Perante o alívio de medidas de alguns países europeus, e agora da vizinha Espanha,cresce a incompreensão por parte dos profissionais de turismo das razões pelas quais Portugal não avança no mesmo sentido de aliviar as medidas de entrada a cidadãos brasileiros vacinados. Para esta incompreensão, não será indiferente o facto do mercado brasileiro ser um dos mais importantes para o turismo em Portugal. Em 2019, ano pré-pandemia, o número de viajantes brasileiros superou pela primeira vez a marca de um milhão de pessoas. Foram responsáveis por 2,9 milhões de dormidas em Portugal.

Pedro Ribeiro, diretor comercial naD om Pedro Hotels& Golf Collection e um dos membros fundadores do Portugal United, é uma das vozes que já se pronunciou publicamente sobre esta questão. Ao TNews diz não compreender o porquê de Portugal não querer retomar este fluxo de turistas e alerta queé a imagem do país que fica prejudicada perante um mercado que sempre elegeu Portugal como um dos seus destinos favoritos. “Depois de três destinos importantes como França, Alemanha e Espanha terem aberto as fronteiras ao turistas brasileiros vacinados, é muito complicado para as empresas nacionais que veem o principal mercado em 2019 para Lisboa continuar fechado”, afirma.“O Brasil foi o mercado número um para Lisboa em 2019”, reforça. “Não se percebe por que é que não queremos que este fluxo retome. Se 74% da população portuguesa já tem duas vacinas, se a vacina protege, por que é que os brasileiros vacinados não podem entrar? Novamente estamos estrangular a recuperação económica do país”. Com uma longa experiência na promoção de Portugal no exterior, e em particular no Brasil, Pedro Ribeiro apela à reabertura de fronteiras para turistas brasileiros vacinados com as vacinas reconhecidas pela OMS.

Muitos profissionais de turismo estão a partilhar esta imagem nas redes sociais

Na passada terça-feira, dia 24 de agosto, Jorge Vinha da Silva, CEO da Altice Arena, publicava, na sua página de Facebook, o comunicado de adiamento do espetáculo musical do artista brasileiro Luccas Neto nos dias 5 e 6 de setembro, “devido às restrições do COVID-19, que restringem a entrada de brasileiros e impõem quarentena aos passageiros oriundos nomeadamente do Brasil”. A publicação do comunicado foi acompanhada de um lamento de Jorge Vinha da Silva: “A cultura continua a ser desprezada!Artistas vindos do Brasil obrigados a quarentena…se fossem desportistas estavam autorizados pois existe uma exceção na lei!! No mesmo dia em que Espanha, França e Alemanha eliminam a quarentena para todos os cidadãos Brasileiros com vacina reconhecida pela OMS. Assim é difícil”. Ao Tnews, o responsável da Altice Arena explicou que, em conjunto com o promotor [do espetáculo] pedimos à DGS para autorizar a realização de testes PCR na entrada e durante a estadia e foi recusado”. “Tal como está na lei existe uma exceção para desportistas o que é uma incoerência”, refere. Por outro lado, Jorge Vinha da Silva levanta a questão: “Como vai Portugal controlar a circulação de pessoas com a abertura de países do espaço Schengen ao mercado brasileiro?”

Na sua página de Facebook, o ex-secretário de Estado do Turismo e administrador do grupo PortoBay, Bernardo Trindade, defende que“está na altura do Governo de Portugal tomar idêntica iniciativa” à de Espanha. Estou a ler que Espanha permite a partir de hoje a entrada de cidadãos brasileiros no seu território, reconhecendo todas as vacinas autorizadas pela OMS. Segue aliás o exemplo de França, Alemanha, Suécia e Suíça…Sendo o mercado brasileiro muito muito importante para Portugal, sendo esta importância muito evidente nas cidades de Lisboa e Porto, está na altura do Governo de Portugal tomar idêntica iniciativa”, escreveu o responsável. Bernardo Trindade acrescenta ainda: “Esta abertura ajudaria muito na recuperação que todo o setor do turismo anseia”.

Recorde-se que o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Raul Martins, já havia pedido a 4 de agosto o reconhecimento do certificado de vacinação aos turistas brasileiros que entrem em Portugal. O responsável fê-lo durante um webinar da associação que teve a presença do ministro da Economia, Pedro Siza Vieira.

O mercado brasileiro não é apenas importante para as grandes cidades portuguesas. Para o destino Fátima, por exemplo, a sua importância também é reconhecida. Alexandre Marto, CEO da Fátima Hotels Group, publicou na sua página de Facebook, que esta situação “só nos pode envergonhar”. “Esta situação de os outros países da UE irem abrindo as fronteiras aos turistas brasileiros enquanto Portugal continua a ponderar a sua posição só nos pode envergonhar.Não apenas por razões económicas evidentes, mas principalmente pelo respeito que os turistas e os profissionais brasileiros do turismo que trabalham com Portugal merecem. Só nos resta pedir desculpa”. A publicação tem dezenas de comentários de profissionais de turismo portugueses e brasileiros que também dizem não compreender a posição do governo português. “Portugal precisa rever esta restrição aí Brasil.“Quem perde é o turismo. Não podemos deixar que isto aconteça. A vacina veio para ajudar”,“Realmente é uma postura que tem chocado o mercado brasileiro”, são alguns dos comentários.