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O que preocupa o setor automóvel? Quando é que chegam os “chips”


Depois do primeiro embate com a pandemia, a indústria automóvel sofre agora o efeito em segunda mão: a escassez de “chips”. Paragens ou redução na produção e atrasos nas entregas de veículos são já os sinais visíveis desta nova realidade.

É a grande dúvida que paira sobre os fabricantes automóveis mundiais: quando é que a escassez de “chips” se vai deixar de fazer sentir. Se na primeira fase da pandemia o impacto foi sentido nas vendas, com os concessionários encerrados um pouco por todo o mundo e na produção, com várias fábricas a suspenderem a produção durante os períodos de confinamento, agora o problema do setor automóvel não é a falta de procura mas sim a incapacidade de a oferta responder.

Nenhum dos maiores grupos automóveis tem escapado incólume, tendo a Toyota, segunda maior fabricante mundial, sido a última a ceder. Em agosto, o gigante nipónico indicou que a produção em setembro seria 40% inferior ao previsto devido à falta de componentes. Antes, já o grupo Volkswagen, a Stellantis, a Daimler, a GM, a BMW, a Renault e a Tesla tinham tido de recorrer a paragens de produção ou redução de turnos.

“A pergunta de um milhão de dólares”

Neste cenário, a grande questão é quando é que a oferta de semicondutores conseguirá corresponder à crescente procura da indústria automóvel.

Os mais otimistas apontam para que em 2022 o estrangulamento no fornecimento de “chips” já tenha sido ultrapassado, mas muitas das empresas do setor avançam já com perspetivas menos risonhas, apontando para uma normalização apenas em 2023 ou mesmo 2024.

Para agravar a situação, o ressurgimento de surtos de covid-19 na Malásia e noutros países do Sudoeste Asiático, onde muitos dos “chips” são fabricados ou até mesmo apenas embalados e depois expedidos, ameaça agravar ainda mais a crise global.

No passado domingo, o CEO da Daimler, casa-mãe da Mercedes, admitiu que vê como mais provável que a escassez ainda se faça sentir em 2023.

Ola Källenius disse aos jornalistas que “vários fornecedores de ‘chips’ têm-se referido a problemas estruturais. Isto pode influenciar 2022 e apenas começar a aliviar em 2023”.

Também Herman Diess, CEO da Volkswagen, assumiu que o grupo alemão, líder mundial em vendas, está “relativamente enfraquecido pela escassez de semicondutores”. Em declarações à CNBC, Diess indicou que o impacto se sente mais na China, mercado onde o grupo “tem perdido quota de mercado”.

“Vamos enfrentar uma escassez de semicondutores devido ao rápido crescimento da internet das coisas e vamos ter de tentar gerir os constrangimentos”, reforçou.

A fabricante com sede em Wolfsburgo esperava que os problemas no fornecimento diminuíssem após o verão, mas a realidade é bem diferente. E a Volkswagen está bastante exposta ao aumento da pandemia na Malásia, uma vez que é neste país que se concentram vários dos fornecedores.

Aliás, em Portugal a Autoeuropa já prolongou os dias de paragem em agosto, tendo apenas retomado a produção esta segunda-feira, 6 de setembro.

Ford mais pessimista

O diretor executivo da Ford Europe, Gunnar Herrmann, mostra-se mais pessimista e considerou, igualmente em declarações à CNBC, que não acredita que a crise nos “chips” seja superada “antes de 2024”.

O responsável justifica esta visão mais “negra” com as dificuldades em aumentar o suficiente a escala da produção para responder à procura que não cessa de crescer, principalmente com a “corrida” à eletrificação da globalidade dos fabricantes automóveis.

Em julho, Carlos Tavares, CEO da Stellantis, defendeu que a situação de falta de semicondutores “facilmente se irá arrastar para 2022”.

Já Ana Boata, economista da seguradora de crédito Euler Hermes, disse ao Financial Times que a normalização não irá ocorrer até 2023, justificando esta posição com uma década de subinvestimento no transporte marítimo, que afeta também a cadeia de fornecimento dos “chips”.

Ao mesmo jornal, Morten Engelstoft, diretor executivo da APM Terminals, considera que o “círculo vicioso” apenas será quebrado se houver um abrandamento da procura pelos consumidores.


Herbert Diess
CEO da Volkswagen
Estamos relativamente fragilizados com a escassez de "chips".

Gunnar Herrmann
Diretor executivo da Ford Europe
Não acredito que a crise dos "chips" se resolva antes de 2024.

Ola Kallenius
CEO da Daimler
Esperamos no quarto trimestre começar a recuperar da escassez.

Carlos Tavares
CEO da Stellantis
Esta situação facilmente se vai arrastar para 2022.