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Viver na cidade ou no campo? Portugueses agora querem qualidade de vida
Idealista


Osgrandes centros urbanoscontinuam no top das preferências dos portugueses para viver, mas pela primeira vez em décadas ocampo voltou a chamar a atenção. Com a pandemia, muitas famílias decidiram, ou estão a ponderar, trocar avida nas grandes cidadespelo meio rural. E nocoração desta mudançaestá a procura por umamelhor qualidade de vida. Esta é uma das conclusões do estudo Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking 2021, que o idealista/news passou a pente fino e explicatodas as conclusões.

Quais são os melhores municípios paraviver, visitar e fazer negóciosem Portugal? Mesmo em tempos de Covid-19,Lisboaarrecada a medalha de primeiro lugar. E em segundo está oPorto, seguido de Cascais, Braga e Coimbra. Esteé o top5 daBloom Consulting PCB Ranking, que permanece, aliás, “intocável”, face à última edição, em 2019.

Mas nem tudo ficou igual,já quedos 25 concelhos com melhores classificações,18 viram os seus lugares alteradosem comparação com os resultados pré-pandémicos. Houve municípios que se afirmaram,como Vila Nova de Gaia (+4 posições), Aveiro (+3) e Leiria (+6),e outros que, pelo contrário, caíram neste ranking, como o Funchal (-3), Setúbal (-4) e Ponta Delgada (-5).

Apesar dos avanços e recuos, “asmarcas municipaisconseguiram ser resilientes e continuar a atrair, embora de formas diferentes”, sublinhou Filipe Roquette, sócio e diretor-geral da Bloom Consulting em Portugal, em entrevista por telefone ao idealista/news.

A verdade é que a pandemia da Covid-19“impactou completamente”na forma de viver, trabalhar e fazer negócios no país e, por isso, o responsávelconsidera que “nada vai ser igual”. E estas mudanças vão “espelhar-se em muita coisa e,em concreto, nas oportunidades que asmarcas municipaistêm de se afirmar, de apresentaralternativas, de captar pessoas e investimento”, sublinhaainda.

Qualidade de vida nas cidades
Foto de Agung Pandit Wiguna no Pexels

Trocar a cidade pelo campo: uma nova tendência?

Entre osmelhores municípios para viverestá Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Viseu, que lideram o top5 daBloom Consulting PCB Ranking nesta dimensão.Mas o que este estudo também mostra é que, hoje, assistimos a umponto de viragem:depois de décadas marcadas pelo êxodo rural,agora verifica-se uma tendência em sentido contrário, com uma maior vontade desair dos grandes centros urbanospara ocampo. Isto porque cerca de 29% dos portugueses que atualmente vivem nacidade, mostram-se disponíveispara mudar para o meio rural, segundo o estudo. Por outro lado, apenas 10% da população portuguesa tem vontade de mudar do campo para a cidade.

As razões que justificam estavontade de mudarda vida citadina para o meio rural são muitas: desde aprocura pela calma e tranquilidade do campoàinsatisfação com a casaou município onde residem, seja pela falta de espaço sejapelo custo de vida excessivo. O foco parece estar na procura por umamaior qualidade de vidapróxima da natureza, refere o estudo. A verdade é que cerca de 17% das pessoas que hoje vivem no campo dizem estarfelizes e não querem mudar. Mas note-se que cerca44% dosportugueses que vivem nas cidadestambém não pensam alterar amorada, segundo mostra o mesmo estudo.

Viver no campo / Imagem de _Alicja_ por Pixabay
Viver no campo/ Imagem de _Alicja_ por Pixabay

Neste cenário de potenciais mudanças, as pesquisas dos portugueses voltaram-se, sobretudo, para um tema:ahabitação. “Aprocura por habitaçãoe outros temas ligados àqualidade de vidapassou a ter uma preponderância muito especial nesta edição do Bloom Consulting Portugal City Brand Ranking”, lê-se no estudo. Esta tendência mostra “algumavontade de mudançae que há aprocura proativa por casasnos 308 municípios”, o que pode refletir queas pessoas estão “insatisfeitas com a casa ou com o município onde vivem”, assume Filipe Roquette.

A disposição demudar da cidade para o campoé “muita significativa e é uma enorme oportunidade para alguns municípios se afirmarem enquantolugares alternativospara viver e trabalhar remota ou localmente”, acredita o diretor-geral da Bloom Consulting Portugal.

Viver na natureza
Madeira/ Imagem de Free-Photos por Pixabay

Uma oportunidade para os municípios

Esta mudança de paradigma pode mesmo ser umaoportunidade para os municípios. “Abriram-se algumas portas para o posicionamento das marcas dos municípios perante estasmudanças de comportamento. É muito importante entender que havendo vontade, investimento e dedicação dos municípios, há uma oportunidade de conseguir atrair. Ou seja, criando condições e afirmando o posicionamento de espaços alternativos para trabalhar e viver, existe aporta aberta de muita genteque não está satisfeita neste momento com o lugar onde reside”, explica Filipe Roquette na mesma entrevista.

Um exemplo disso éIdanha-a-Nova(Castelo Branco), que tem vindo a posicionar-se há cinco anos como um município alternativo para avida junto ao campo.“A verdade é que tem funcionado muito bem e tem recebido muitas famílias neste sentido. Tudo depende do trabalho que o município faz para conseguircriar condições”, avança o sócio da empresa que desenvolveu o estudo. Nas regiões, destaca-se oAlentejoque foi a que cresceu mais na procura, muito devido ao facto de apresentar espaços mais apropriados para estes tempos de pandemia, onde facilmente hádistância social e segurança.

Viver no Alentejo
Alentejo/ Foto de craveiro_ pics no Pexels
Trabalhar as marcas municipaisé, portanto, a solução paraatrair mais pessoaspara viver, trabalhar e visitar os concelhos.Isto é, trabalhar o seuposicionamento e estratégiade forma a “criar uma marca clara, para que as pessoas entendam o que quer dizer exatamente aquele espaço, o que é que ele pode proporcionar, que condiçõespoderá dar”, explica ainda o diretor da empresa. A ideia passa por mostrar às pessoas – através de programas e projetos - que naquele município existe “uma oportunidade que lhes vai darmelhores condições de vidado que no sítio onde residem atualmente”, acrescenta.

Mas paraatrair mais pessoas para viver, “é preciso que tudo isto se concretize, só a vontade das pessoas saírem da cidade não é suficiente, tem de haver alternativas para encontrar um espaço que gostem que lhes compense financeiramente”, sublinha Filipe Roquette. Esta mudança rumo ao campo, pode ser também o ponto de partida para havermais construção e investimentonestas zonas do país, considera ainda o autor do estudo.

Teletrabalho
Foto de ThisIsEngineering no Pexels

Negócios: o que muda?

O furação da pandemia não só mudou a forma das pessoassentirem as suas casase as cidades onde moram. Este cenário também mudou a forma de trabalhar, colocandomilhares de portugues emteletrabalho.

Na dimensão dosnegócios, Lisboa, Porto, Cascais, Vila Nova de Gaia e Coimbra são os municípios que apresentam as melhores classificações no Bloom Consulting PCB Ranking.Mas, com a modalidade deteletrabalhoa tornar-se a regra durante a pandemia, no futuro “89% dos trabalhadoresportugueses mostram-se disponíveis para trabalhar remotamente a partir de um município diferente daquele em que vivem agora, caso a oportunidade surgisse e encontrassem ascondições ideaisnesse local”, conclui o estudo.

Teletrabalho no futuro
Foto de Ketut Subiyanto no Pexels

O que a publicação da Bloom Consulting mostra também é que a pandemia teve um “impacto profundo” na forma como os portugueses se veem a trabalhar no futuro. “O estudo reflete quequase ninguém vai querer voltar ao normal.Toda a gente vai querer umaoportunidade híbrida de trabalho”, acredita Filipe Roquette.Os dados mostram que 73% da população portuguesa afirma que quer trabalhar 100% desde casa ou nummodelo híbrido, enquantoapenas 31% afirma querer voltar ao trabalho 100% presencial.

Teletrabalho no futuro
Foto de Andrew Neel no Pexels

Natureza atraí turistas

E quais são os municípios em destaque paravisitar? Lisboa, Porto, Funchal, Cascais e Portimão são os que ocupam os cinco primeiros lugares do ranking nesta dimensão.O impacto da pandemia noturismofez-se sentir um pouco por todos os municípios portugueses, até porque a pesquisaporhotéis e atividades turísticasabrandou e muito, dadas as restrições de circulação impostas.

Este ano, verificou-se que “as zonas deturismo mais urbanasperderam um pouco e asregiões mais alternativasacabaram por se afirmar um pouco mais a nível nacional”, refere Filipe Roquette, destacando que agora há muito mais procura pordestinos de natureza.Um exemplo disso é o município daLousã(Coimbra), onde as pesquisas sobre praias, atrações turísticas e maravilhas naturais dispararam e tornaram-no numa“afirmação rural”.

Destinos de Natureza
Foto de Kampus Production no Pexels

O turismo transformou-se e há novasoportunidades de investimentoimobiliáriopara receber turistas, sobretudo, nestes destinos de natureza. “Destinos comos osAçorese aMadeira- que tiveram poucos casos – que apresentam uma oferta muito ligada à natureza, saíram reforçados da pandemia. Isto indica que se um destino se souber afirmar comodestino de naturezaserá um sucesso enorme já nos próximos anos com certeza”, acredita o diretor-geral daBloom Consulting Portugal. Já os “destinos que apresentam umaoferta mais massificadae menos diferenciada, passaram a ser uma segunda escolha neste momento, porque não oferecem tanta segurança”, afirma.

Embora, segundo o estudo, quase60% dos portuguesestenha escolhido tirar as suas próximas férias em território nacional, “a tendência é que as pessoas voltem a viajar assim que este cenário se tornar endémico”, consideraainda o autor desteestudo.

Destinos de Natureza