Notícias



Fantasma da bolha imobiliária volta para assombrar a zona euro
JORNAL DE NEGÓCIOS


O mercado imobiliário desacelerou na pandemia, mas não o suficiente para deixar de estar entre as preocupações das autoridades monetárias. Banco Central Europeu, Banco de Portugal ou Comissão Europeia estão entre as organizações que lançaram alertas sobre o risco de uma sobrevalorização . A tendência está a levar a receios de correções, mas Mário Centeno garante que Portugal está protegido.

“Em Portugal, os preços no mercado imobiliário residencial continuaram a aumentar, embora a um ritmo mais lento”. O banco central liderado por Mário Centeno alertava, no seu relatório de estabilidade financeira, para a contínua subida dos preços das casas desde o início da pandemia. Entre março e dezembro do ano passado, o índice de preços da habitação cresceu 3,5%, o que compara com 4,4% na zona euro. Após um alívio no início deste ano, a tendência voltou a inverter com um novo agravamento no segundo trimestre de 2021.

“Atualmente, os preços das casas parecem estar sobreavaliados em metade dos países da União Europeia”, apontava a Comissão Europeia, nas Previsões Económicas de Outono. Referia que a pandemia não chegou para interromper o ciclo de quase uma década de subida dos preços da habitação na Europa, enquanto os salários ficam aquém deste movimento. Portugal está no pior de ambos os mundos: não só se encontra entre os países com maior sobreavaliação do mercado habitacional, como está entre aqueles em que os preços mais crescem em relação aos salários.

O ambiente favorável nas condições de financiamento, a retoma da economia, o impacto da pandemia na procura por casas, mas também alguma redução nos critérios de concessão de crédito são vistos como razões para a forte aceleração (ao ritmo mais forte desde 2005) dos preços pelo Banco Central Europeu (BCE). Mas qual é o problema deste agravamento? O risco de correções.

“Crescentes sinais de sobre avaliação no mercado imobiliário residencial na zona euro, enquanto um todo, deixa os mercados mais propensos a correções, em particular em países com maiores níveis de avaliações”, avisa o BCE no relatório de estabilidade financeira.

A autoridade liderada por Christine Lagarde avisa que, nalguns países, há evidências de que esse reforço esteja a ser conseguido às custas dos critérios de financiamento, o que se reflete em rácios mais elevados de empréstimos face aos rendimentos. Ou seja, os bancos estarão a dar mais crédito com maior risco, lembrando a crise do subprime nos Estados Unidos, há pouco mais de uma década.

A recomendação é, por isso, que os países adotem medidas de política macro prudencial como o travão ao crédito em vigor em Portugal. Exatamente por isso, o BdP defende que o país está protegido, mesmo em relação ao recuo de apoios ligados à pandemia como as moratórias bancárias.

“A retirada das medidas de apoio, numa situação de endividamento elevado e de atividade ainda deprimida em alguns setores, potencia a materialização do risco de crédito. As baixas taxas de juro e a adoção de novas medidas de apoio, mais direcionadas, temporárias e que promovam a capitalização e redução do endividamento das empresas viáveis, mitigam este risco. No caso das famílias, a melhoria do perfil de risco dos mutuários observada desde a crise da dívida soberana, reforçada pela recomendação macro prudencial de julho de 2018, e as medidas de apoio ao rendimento das famílias mitigam os riscos para o setor financeiro”, pode ler-se no relatório nacional.