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Turismo português só deverá recuperar em 2023, considera economista-chefe da Euler Hermes
Jornal Económico sapo


Em entrevista ao Jornal Económico, Ana Boata estima que o ritmo de crescimento da economia portuguesa seja inferior ao da Zona Euro este ano, mas que deverá acelerar em 2022, para um passo de 5,2%, superior ao que a Comissão Europeia espera para a Zona Euro, mas inferior aos 5,5% que o Governo antevê.

O turismo foi um dos sectores mais afetados pela pandemia em Portugal e a sua recuperação para um nível idêntico ao período pré-Covid-19 não deverá acontecer antes de 2023, considera Ana Boata, Head of Macroeconomic and Sector Research da Euler Hermes, líder mundial do mercado do seguro de crédito e acionista da portuguesa Cosec.

Em entrevista ao Jornal Económico, Ana Boata estima que o ritmo de crescimento da economia portuguesa seja inferior ao da Zona Euro este ano, mas que deverá acelerar em 2022, para um passo de 5,2%, superior ao que a Comissão Europeia espera para a Zona Euro, mas inferior aos 5,5% que o Governo antevê.

Em que condições poderá o crescimento do produto interno bruto (PIB) português ficar acima da média europeia?

Esperamos que Portugal cresça 4% em 2021, abaixo da média da Zona Euro de 4,3%. Efeitos de base substanciais e uma recuperação na procura interna após o levantamento das restrições, em meados de março, levaram a um forte desempenho no segundo trimestre. No entanto, esperamos uma desaceleração nos dois trimestres seguintes, já que a quarta onda de Portugal, em junho, levou a novas restrições direcionadas e limitou a recuperação no setor do turismo.

O forte progresso na vacinação, e que permitiu a imunização de 85% da população elegível até outubro, os benefícios do programa de estímulo da União Europeia e o aumento das exportações permitirão uma recuperação do PIB, em 2022, da ordem dos 5,2%, acima da média europeia.

A velocidade de vacinação em Portugal é suficiente para permitir a recuperação da economia, nomeadamente do turismo?

Portugal fez progressos substanciais na frente da vacinação. Esse cenário positivo de vacinação permitiu uma nova reabertura da economia, iniciada em agosto de 2021 após uma pausa durante o verão, permitindo uma retoma da procura interna a médio prazo e uma recuperação gradual do sector do turismo. Embora a recuperar, o turismo permanece muito abaixo dos níveis pré-pandémicos e não esperamos uma recuperação total antes de 2023. A procura mantém-se com restrições em Portugal e com 10 mil milhões de euros de poupança excedentária das famílias registado no final do primeiro trimestre de 2021 ainda a serem transformados em consumo.

A pandemia irá forçar uma recuperação a duas velocidades das indústrias em Portugal?

A pandemia atingiu sectores e indústrias em Portugal de forma heterogénea, tendo o turismo, a restauração, o retalho e o lazer, que representam cerca de 27% do PIB, o maior impacto. Por outro lado, sectores como o financeiro, a construção e a agricultura, que representam uma parcela muito menor do PIB, tiveram um desempenho relativamente melhor, mas ainda enfrentam obstáculos ligados às restrições das cadeias de abastecimento. A capacidade de preencher a lacuna entre os sectores no médio prazo dependerá da evolução da pandemia e da capacidade de eliminar as restrições à mobilidade e às viagens internacionais, que permanecem incertas.

Por quanto tempo o BCE manterá a política monetária acomodatícia? Quando devem terminar os estímulos?

Em nossa opinião, a política deve permanecer acomodatícia após o final do programa PEPP [Pandemic emergency purchase programme / Programa de Compras de Emergência Pandémica que incide sobre títulos de dívida pública e privada], provavelmente em março, e a redução do programa de compra de APP [Asset purchase programes / programa para a compra de ativos] provavelmente só começará na passagem de 2022/2023. As compras de QE [programa de quantitative easing] devem ser descontinuadas até o final de 2023 e esperamos que os aumentos das taxas ocorram não antes de 2024.

A recuperação do mercado de trabalho é um sinal de subida da taxa de juro?

A recuperação do mercado de trabalho em toda a zona do euro foi notavelmente rápida, mas, por agora, a magnitude da recuperação permanece obscura, ainda em torno de cinco milhões trabalhadores que beneficiaram de esquemas de licença nos meses de verão. As pressões salariais continuam a ser muito contidas, uma vez que a folga do mercado de trabalho continua elevada.

Que sectores têm maior potencial de crescimento em 2022?

O elevado grau de incerteza quanto à evolução da pandemia e à reabertura da economia aumenta os riscos em todos os sectores, em Portugal e no mundo. No entanto, alguns sectores, como o farmacêutico, químico, agroalimentar, do papel, software e da energia apresentam níveis de risco mais baixos em comparação com o comércio, a construção, o transporte ou as máquinas.