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Escalada da inflação já pesa no défice comercial
JORNAL DE NEGÓCIOS


O preço do que Portugal compra lá fora está a subir mais depressa do que o daquilo que vende. O resultado é prejudicial para o país e acentua o défice comercial gerado na pandemia.

O disparo da inflação já está a ter efeitos negativos no equilíbrio da economia portuguesa. Tendo regressado aos défices comerciais desde que a pandemia estalou, Portugal vê-se ainda mais prejudicado pela subida dos preços: é que os bens que compra lá fora estão a ficar comparativamente mais caros do que os que vende.

No terceiro trimestre deste ano, o défice comercial de bens e serviços afundou para 3% do PIB, revelou o Instituto Nacional de Estatística (INE) no boletim sobre contas nacionais, publicado esta semana. No segundo trimestre era de 4%, mas um ano antes o défice comercial valia metade, 1,5% do PIB.

Na comparação homóloga, Portugal registou défices comerciais mais elevados nos três trimestres já decorridos de 2021, apesar de a atividade económica ter recuperado face a 2020, o ano da recessão histórica de 8,4%.

Esta degradação da balança comercial explica-se porque apesar de a economia ter recuperado, as suas componentes não retomaram exatamente na mesma medida. As exportações estão a crescer (avançaram 10,2% no terceiro trimestre, face ao período homólogo), mas as importações estão a avançar mais depressa ainda (subiram 11%).

É que o consumo das famílias aumentou 4,6%, o consumo público também subiu (3,7%) e o investimento também cresceu (5,8%). E para satisfazer estas necessidades, a economia portuguesa depende ainda muito de importações. Teria sido preciso uma recuperação mais acentuada das exportações – em especial de serviços, já que os bens estão a evoluir mais favoravelmente –, para que este desequilíbrio da balança comercial não se tivesse verificado. Mas o atraso da retoma do turismo, fortemente prejudicado pela pandemia, não o permitiu.

A questão é que este desequilíbrio, que se justifica pela estrutura da economia portuguesa, está ainda a ser acentuado por questões conjunturais dos preços. Pelo segundo trimestre consecutivo, os termos de troca estão a desfavorecer a balança comercial portuguesa. Isto quer dizer que o preço dos bens e serviços que Portugal importa está a subir mais depressa do que o preço daquilo que exporta. O resultado é que a economia nacional tem de despender de mais recursos para obter o mesmo nível de bem-estar. Além disso, arrisca-se a ter de incorporar as subidas dos preços dos bens importados naquilo que exporta, podendo prejudicar a sua competitividade.


Uma forma de observar este impacto negativo no défice comercial é comparar a sua evolução em volume (ou seja, sem o efeito dos preços), com a evolução em valor (que mantém esse efeito). Os dados do INE mostram que o défice comercial em valor degradou-se em mais 593,9 milhões de euros no terceiro trimestre deste ano, do que em volume.



A inflação não é toda igual

O principal motivo que explica a degradação dos termos de troca está no tipo de bens que o país compra e vende lá fora. O boletim do INE mostra que enquanto a inflação homóloga das exportações foi de 8,8% no terceiro trimestre deste ano, a das importações foi de 11,2%. É que uma parte muito relevante do que Portugal compra ao exterior são bens energéticos e matérias-primas, precisamente o tipo de produtos cuja subida dos preços tem sido mais acentuada.

No boletim, o INE indica isso mesmo, referindo que “em larga medida” o comportamento do deflator das importações foi influenciado “pelo crescimento pronunciado dos preços dos produtos energéticos e das matérias-primas.”

Quanto tempo vai durar a alta dos preços?

Ninguém sabe ao certo por quanto tempo a inflação vai continuar elevada – o Banco Central Europeu diz que o efeito é temporário, mas já há economistas a antecipar que se mantenha, pelo menos, até ao final do próximo ano.

Esta semana, o INE revelou, numa primeira estimativa, que a inflação em novembro terá aumentado para 2,7%, em termos homólogos, depois de também já ter subido em outubro (foi de 1,8%). Nos bens energéticos, terá atingido 14,2% em novembro, depois de ter registado 13,4% um mês antes. Já sem contar com esta categoria, nem com os produtos alimentares não transformados, a inflação foi de 1,8%. Será preciso esperar por dados finais, mas é possível que o último trimestre do ano volte a ficar marcado por termos de troca prejudiciais ao país.

Para a Zona Euro, o Eurostat revelou também esta semana uma subida da inflação dos 4,1% registados em outubro, para 4,9% em novembro.



3%
DÉFICE COMERCIAL
No terceiro trimestre, o défice comercial foi de 3% do PIB. No trimestre anterior tinha sido 4%, mas um ano antes estava em 1,5% do PIB.