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OIT agrava previsões de emprego para 2022 e 2023
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Organização não antecipa recuperação completa do mercado de trabalho global neste ano ou no próximo. Mas grande parte da Europa é exceção e recupera já em 2022.

A entrada na pandemia no terceiro ano vai adiar a recuperação global dos mercados de trabalho com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a rever em baixa, nesta segunda-feira, as previsões para a recuperação do emprego em 2022 e 2023.

"As perspetivas do mercado de trabalho global deterioraram-se desde as últimas projeções da OIT; um regresso a um desempenho pré-pandémico deverá provavelmente permanecer por alcançar em grande parte do mundo ao longo dos próximos anos", refere a organização no último relatório de perspetivas sobre tendências sociais e no emprego, que atualiza dados apresentados em junho do ano passado.

Com base nas projeções de crescimento das economias para 2022, a organização estima que as horas trabalhadas globalmente, ajustadas ao crescimento da população, fiquem ainda neste ano 2% abaixo das que se registavam no período anterior à pandemia. Serão ainda 52 milhões de empregos a menos nas estimativas que consideram semanas de trabalho de 48 horas.

Os dados comparam com a expetativa de uma quebra de 1% nas horas trabalhadas a nível global no corrente ano, nas estimativas apresentadas pela OIT em junho do ano passado. A organização antevia então um défice correspondente a 23 milhões de postos de trabalho em todo o mundo.

Nos novos cálculos agora apresentados, o nível de desemprego global irá manter-se igualmente acima do que existia em 2019, com a OIT a projetar 207 milhões de desempregados em todo o mundo, mais 21 milhões que os contabilizados antes da pandemia.

Há meio ano, a estimativa era de 205 milhões de desempregados em todo o mundo.

Porém, diferentes regiões e grupos de países a evidenciam ritmos de recuperação diferentes. Os países mais ricos, com maior acesso à vacinação e com espaço orçamental para apoiarem a economia, conseguem resultados melhores. Os países mais pobres, com maiores desigualdades, níveis de proteção mais fracos e maiores disparidades nas condições de trabalho, sofrem os piores impactos.

Se a recuperação permanece adiada para a generalidade das regiões, a Europa e a região do Pacífico são ainda assim aquelas que ficarão mais perto do objetivo de normalizarem os respetivos mercados de trabalho no horizonte dos próximos dois anos. E, no caso de grande parte da Europa, as previsões apontam já a uma recuperação completa ainda durante 2022.

"A forte recuperação da segunda metade de 2021 na Europa do norte, do sul e Europa ocidental deverá refletir-se em 2022, conduzida sobretudo pela Alemanha, França, Itália e Espanha", refere o documento da OIT, ainda que assinalando comportamentos desiguais em diferentes sectores de atividade. Nalguns casos, persistem problemas relacionados com falta de componentes, disrupções nas cadeias de abastecimento e também falta de mão de obra.

Não considerando a Europa de Leste, com uma recuperação mais demorada, o grupo de países europeus onde se inclui Portugal superará o nível de emprego de 2019 ainda neste ano, alcançando 210 milhões de postos de trabalho ocupados (igual em 2023), e reduzirá também o desemprego para níveis abaixo dos registados no período anterior à pandemia. A OIT prevê 15,2 milhões de desempregados (14,9 milhões em 2023), que comparam com 15,6 milhões de desempregados em 2019. A taxa de desemprego do grupo deverá ficar em 6,6%, três décimas abaixo da que existia em pré-pandemia.

O relatório não possui dados isolados para Portugal, mas as previsões incluídas na base de dados que acompanha o documento apontam a trajetórias constantes até 2023 para os níveis de emprego e desemprego registados em 2020 (4,8 milhões de empregados e 300 mil desempregados), e que efetivamente não se verificam até aqui nos dados oficiais portugueses. O país tem tido subidas no nível de emprego e descidas no desemprego desde então.


Mas, segundo o relatório de hoje, há sobretudo riscos de a realidade ficar abaixo destas estimativas agora apresentadas com a evolução incerta da pandemia neste arranque de ano e perante outros constrangimentos: as disrupções das cadeias de abastecimento, e na oferta de mão de obra, que persistem, assim como a possibilidade de as subidas de preços atualmente sentidas se prolongarem no tempo. A OIT alerta que, "se a inflação se tornar mais endémica, poderá haver maior risco de que sejam implementadas medidas de austeridade prematuras" que poderão tornar mais difícil a recuperação do emprego.