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Alemanha “surpreendida” com hidrogénio verde português
JORNAL DE NEGÓCIOS


Com a crise energética no topo da atualidade, não surpreende que a energia tenha sido um dos temas em destaque no regresso da maior feira industrial do mundo, a Hannover Messe, na Alemanha. Portugal foi representado por mais de uma centena de companhias, com várias a apresentarem propostas na área energética, e em particular nas energias limpas. A EDP, a GALP e a Fusion Fuel foram três das marcas que ali aproveitaram para mostrar os mais recentes avanços tecnológicos na área.
  • EDP já vai ter hidrogénio verde este ano no Brasil
  • Galp quer trazer fábricas alemãs para onde há H2
  • Fusion Fuel: nova coqueluche faz ‘pitch’ do seu trunfo
  • Com a ambição de ter 1,5 GW de eletrolisadores em todo o mundo em 2030, a EDP Renováveis criou uma unidade de negócio dedicada ao hidrogénio verde e vai estar a produzir o seu primeiro gás renovável já este ano, no último trimestre de 2022. A garantia foi dada por André Pina, H2 Associate Director da EDP Renováveis, no palco principal do Pavilhão de Portugal na Hannover Messe. A localização, essa, é que pode surpreender. Em vez de Sines, o primeiro hidrogénio de origem renovável do Grupo EDP vai ser produzido do outro lado do Atlântico, no Brasil, com o projeto piloto de inovação Pecém H2V (1,25MW), cuja operação comercial foi antecipada para dezembro de 2022.

  • Trata-se de uma central solar com 3MW, que irá produzir hidrogénio 100% verde que será depois utilizado numa central a carvão (para substituir o consumo de gasóleo em sistemas auxiliares da central) que a EDP tem naquela região. "Este projeto serve de laboratório vivo para a economia do hidrogénio e demonstra uma forma de aumentar a eficiência de centrais fósseis existentes", pode ler-se no folheto do projeto.

    "Estamos a desenvolver projetos em várias geografias e estamos a começar por aquelas onde estamos mais presentes, como Portugal, Espanha, Brasil, EUA, mas a olhar para oportunidades de expansão", reforçou André Pina.

    Em 2023 será a vez da central do Carregado, no Ribatejo, estar a produzir hidrogénio (de preferência verde), desta feita já em Portugal. Aqui trata-se também de um projeto piloto com um eletrolisador de 1,4 MW, que usa a energia em excesso da central a gás para criar hidrogénio e amoníaco. "Depois depende do mix energético que utilizarmos para alimentarmos o eletrolisador (ligado à rede elétrica nacional), que se espera que seja o mais renovável possível", diz o responsável.

    Segue-se depois o projeto bandeira de Sines, esse sim de grande escala, mas só em no último trimestre de 2025, com o consórcio GreenH2Atlantic, do qual fazem parte 13 entidades, entre empresas, universidades, centros de investigação. Na antiga central a carvão vai nascer então uma "fábrica" de 100 MW de hidrogénio verde, que conta já com financiamento de 30 milhões da União Europeia.

    "Mais do que simbólico o hidrogénio substituir o carvão em Sines é estratégico. Há muitas sinesgias entre os antigos ativos térmicos e o futuro da energia, muitas infraestruturas que podem ser aporveitadas. Temos terrenos, competências humanas e assim mantemos a presença e os compromissos na região. Mas antes de exportarmos hidrogénio, queremos também exportar também os seus derivados", explicou ao Negócios André Pina.
    Galp quer trazer fábricas alemãs para onde há H2

    Diogo Almeida, responsável de Desenvolvimento de Negócio de H2 da Galp, não tem dúvidas que a presença da empresa na Hannover Messe foi um sucesso e trouxe várias vantagens. Na Alemanha, o objetivo da petrolífera que quer ser cada vez menos uma empresa de oil & gas e passar a ser cada vez mais uma energética foi sobretudo "atrair investimentos da indústria pesada alemã para Portugal e Espanha". Ou seja, se Maomé não vai á montanha, a montanha vai a Maomé. Que é o mesmo que dizer: se o hidrogénio verde ainda não é exportável, "vamos trazer as fábricas de aço, cimento e outras, aquelas que não se podem eletrificar, para o sítio onde o hidrogénio está a ser produzido". E lembra o potencial das empresas alemãs que estão agora a tirar as suas fábricas da Ásia e a trazê-las para mais perto.

    Aqui a Galp refere-se a Portugal, e a Sines, mas não só, com a empresa a estudar outras geografias como o Brasil e vários países do Norte de África, com condições favoráveis à produção de hidrogénio.

    Para já, o que está em cima da mesa é um projeto de 600 MW de eletrolisadores em Sines para descarbonizar a refinaria , o que equivale a 600 mil toneladas de hidrogénio verde. Por fases, serão 2MW em 2023, mais 100 MW em 2025, o que já dará para suprir um sexto da quantidade de hidrogénio poluente que é hoje usado, e os restantes 500 MW em 2026/2027.

    Diogo Almeida lembra que a este projeto ainda falta a decisão final de investimento, no entanto a empresa está já a pensar numa segunda fase, que lhe permitirá chegar a um total de 1,5 GW de eletrolisadores no final da década. Para isso, a somar aos 600 MW já anunciados, serão adicionados ainda mais 900 MW para a produção de combustíveis descarbonizados como o amoníaco, o metanol ou o jet fuel.

    Da Fusion Fuel, pode quase dizer-se que se trata da nova "coqueluche" do Governo português. No tour conjunto que os dois ministros da Economia, Costa Silva e Robert Habek, fizeram pelos stands das empresas nacionais na Hannover Messe, o governante português fez questão de parar por algum tempo no stand da empresa para que o seu homólogo alemão pudesse assistir a um ‘pitch’ quase privado sobre a tecnologia de produção de hidrogénio Hevo-Solar (uma espécie de eletrolisador em miniatura) que permite "maximizar a exposição solar" e produzir até duas toneladas de H2 por ano, diz Nuno Lopes Filipe, Business Development Director, ao Negócios.

    Para esta empresa portuguesa, a presença em Hannover "foi importante", não só pelo "entusiasmo e apoio do Governo, mas também pelos contactos feitos ao nível da Investigação e Desenvolvimento e parte Comercial, tanto de empresas alemãs como portuguesas. "Conhecemos aqui muitos potenciais clientes", diz o responsável da Fusion Fuel. Depois da Green Hydrogen Summit , em Lisboa, há cerda de três semanas, a Hannover Messe, a maior feira industrial do mundo, foi apenas o segundo certame em que participaram, e com sucesso.

    Quanto à Alemanha, a Fusion Fuel vê o país como um bom destino: não para instalar projetos de produção de hidrogénio verde, dada a fraca exposição solar do país, mas sim como destino de exportação de produtos como amoníaco verde, em que também estão envolvidos. "O amoníaco verde tem vantagens porque pode ser usado como ‘carrier’ de energia e depois ser transformado de novo em hidrogénio, ou então como matéria prima para a produção de fertilizantes, o que para a Alemanha é relevante", explicou Nuno Lopes Filipe.

    Em Sines, onde a Fusion Fuel também marca presença forte no ecossistema de hidrogénio verde que está a nascer na região, com o objetivo de produzir o gás renovável para fornecer a outras empresas, sendo que já estão em conversações sólidas com algumas delas, mas preferem não revelar nomes ainda. Quanto a eletrolisadores, vão fornecê-los à KemEnergy que tem um projeto de 5 hectares também em Sines.

    Para já, em Évora, continuam com dois projetos projeto piloto (H2Évora e GreenGas Évora) para produzir hidrogénio verde na "primeira fábrica em Portugal" que servirá para injetar na rede e também para alimentar uma pilha de combustível e gerar energia elétrica, que deverá arrancar daqui a um ano.