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Famílias já consumiram 60% da poupança da covid
JORNAL DE NEGÓCIOS


As famílias já consumiram mais de metade do pico da poupança realizada durante a pandemia de covid-19, num total de cerca de 8,2 mil milhões de euros.

Segundo os dados das contas nacionais trimestrais por setor institucional, divulgados na sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de poupança das famílias no primeiro trimestre recuou para 8,3% do rendimento disponível bruto.

No quarto trimestre de 2021, a taxa era de 10,7% – isto nas médias a quatro meses, que são feitas para atenuar a volatilidade normal da poupança ao longo de um ano – os meses em que há subsídios de férias ou Natal a receber permitem guardar mais rendimento.

O INE justifica a redução com o aumento do consumo privado, de 4,1% face ao final de 2021, superior ao rendimento disponível, que foi de 1,4%. O consumo privado, aliás, acelerou face ao crescimento em cadeia registado no último trimestre do ano passado. Contas feitas, as famílias pouparam menos 3,4 mil milhões de euros.

No entanto, se os níveis de poupança do arranque deste ano forem comparados com os do pico da pandemia, a redução é maior. No ano terminado no segundo trimestre de 2021, ou seja, considerando o primeiro ano da covid-19 (que levou a confinamentos mais restritivos), as famílias tinham poupado cerca de 21 mil milhões de euros, o equivalente a 14,3% do seu rendimento disponível.

Agora, e face a esse pico, foram consumidos 8,2 mil milhões de euros, ou cerca de 61,2% desse bolo. No ano terminado no primeiro trimestre de 2021, as famílias pouparam quase 12,9 mil milhões de euros, diz o INE – o valor mais baixo dos últimos dois anos. Recorde-se que o primeiro caso de covid-19 foi detetado no início de março de 2020. Contudo, este valor ainda é mais alto do que a média de 2019, quando os portugueses pouparam 7% do seu rendimento disponível (ou cerca de 10,1 mil milhões de euros).

Balão de poupança deve esvaziar-se até 2024

Aliás, a expectativa é que as poupanças das famílias se reduzam gradualmente, voltando a níveis ligeiramente inferiores aos do pré-pandemia nos próximos anos. No último boletim económico, que divulgou há duas semanas, o Banco de Portugal antecipa que a taxa de poupança encolha para 6% do rendimento disponível, em média e em termos anuais, até 2024, devido ao crescimento do consumo privado.

As estimativas do BdP apontam para que o consumo privado aumente 5,2% este ano, antes de começar a recuar para valores “mais alinhados com o do rendimento disponível real” previsto para os anos seguintes: 1,2% em 2023 e 1,4% em 2024. O consumo privado foi, aliás, um dos principais motores da retoma económica em 2021 e no início deste ano (a par com as exportações de serviços, sobretudo turismo) e “deverá basear-se numa redução da poupança corrente” das famílias.

A confirmar-se a estimativa da instituição liderada por Mário Centeno, a taxa de poupança ficará, em 2024, abaixo do valor de 2019 (que foi de 7,2% do rendimento disponível das famílias), e será menos de metade do pico anual de 12,7% registado em 2020.

Inflação pressiona poupanças

Mas com a inflação a galopar desde março, após a invasão da Ucrânia pela Rússia no final de fevereiro, a perspetiva é que a erosão do poder de compra possa pressionar o recurso às poupanças.

Numa nota publicada no início deste mês, os economistas do BPI indicavam “que as poupanças acumuladas durante a pandemia irão ser totalmente absorvidas pelo aumento da inflação”, afetando “mais as famílias de mais baixos rendimentos, cuja acumulação de poupanças durante a pandemia foi mais reduzida”. Este efeito acaba por ter um impacto mais forte nas famílias com menos rendimento, sendo que nos superiores, a propensão à poupança é maior – e ao consumo menor.

8,3%
TAXA DE POUPANÇA
No ano terminado no primeiro trimestre, a taxa de poupança reduziu-se para 8,3%, face aos 10,7% do trimestre anterior.