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Risco de estagflação também existe em Portugal, mas está mais longe
JORNAL DE NEGÓCIOS
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Os riscos de estagflação também existem em Portugal, só que parecem estar mais longe, porque a economia ainda está a beneficiar de alguma recuperação no pós-pandemia, sobretudo relacionada com o turismo, dizem os economistas ao Negócios.
No entanto, e dados os receios de recessão no “motor” alemão, os riscos de estagflação parecem estar mais perto na Zona Euro do que em Portugal. Se por um lado a inflação também está elevada, tudo aponta para que a economia portuguesa continue a crescer este ano, apesar dos abrandamentos (ou mesmo estagnação) previstos para os próximos trimestres.
6,4%
INFLAÇÃO
Assumindo os dados de maio, a inflação esperada pelo BdP para o conjunto do ano é de 6,4%, mais do dobro do esperado anteriormente.
O índice de preços no consumidor (IPC) atingiu 8% em maio, o valor mais alto desde 1993 – e as estimativas das instituições económicas para o conjunto do ano têm sido sucessivamente revistas em alta. Por exemplo, e mais recentemente, o Banco de Portugal, que já assume os dados de maio, estima que os preços possam subir 6,4% no conjunto do ano.
Os valores são relativamente semelhantes aos esperados para a Zona Euro. No entanto, as expectativas para o crescimento económico são mais otimistas para Portugal – pelo menos para já.
Depois de ter apresentado no primeiro trimestre um crescimento surpreendente, a perspetiva é que a economia portuguesa trave a fundo – ou mesmo que recue – neste segundo trimestre. Nas previsões de primavera, divulgadas em maio, a Comissão Europeia previa que o PIB português recuasse 1,5% entre abril e junho, embora mantenha a estimativa de um crescimento acentuado no conjunto do ano.
6,3%
CRESCIMENTO
O Banco de Portugal reviu a estimativa de crescimento do PIB para 6,3% este ano, mas antecipa travagens nos próximos trimestres.
Mais recentemente, também o Banco de Portugal reviu em alta a estimativa para o crescimento da economia este ano para 6,3%, apesar de no segundo, terceiro e quarto trimestres de 2022 estar prevista “uma estagnação”. Isto, claro, tendo em conta “o agravamento do enquadramento internacional com a invasão injustificada da Ucrânia”.
No entanto, uma travagem da economia da Zona Euro terá também efeitos na economia portuguesa. “Se a Europa entrar em fraco crescimento, a economia portuguesa é afetada necessariamente na sua procura”, frisa António da Ascensão Costa, economista do ISEG. Para o professor, o “PIB português pode degradar-se mais tarde”. Ou seja, pelos efeitos de outras economias da Zona Euro, sobretudo pela redução da produção industrial na Alemanha, diz.
Até lá, há algum efeito base a proteger a economia portuguesa: “É uma economia pequena, com o turismo a recuperar e se a construção se mantiver, isso pode esconder durante algum tempo os impactos de uma subida de preços”, admite o professor.
António da Ascensão Costa lembra que Portugal, ao contrário de outras economias europeias, só recuperou os níveis pré-pandemia no primeiro trimestre deste ano.
O mesmo diz Paulo Rosa, economista sénior do banco Carregosa. Embora se preveja que a economia portuguesa continue a beneficiar da significativa recuperação do turismo, “o bom comportamento tende a desacelerar à medida que o ímpeto das férias e das viagens abranda depois do verão”, frisa, ao Negócios.
Além disso, e com a economia europeia “a dar sinais de um visível abrandamento, a economia portuguesa “também seria contagiada e penalizada”. E isto ao mesmo tempo que a inflação em Portugal continua a disparar de forma consistente. Assim, “cresce também a probabilidade de o país vivenciar o fenómeno da estagflação”, admite Paulo Rosa.
Desemprego baixo afasta cenário de estagflação
Para se referir à estagflação, o BCE tem considerado uma inflação acima dos 2%, juntamente com um crescimento 0% ou negativo por dois anos. Mas há vários conceitos, uns que consideram também a existência de uma taxa de desemprego alta e persistente.
É o caso do governador do Banco de Portugal. Há cerca de duas semanas, Mário Centeno afastou o cenário de estagflação dada a reduzida taxa de desemprego em Portugal. “O que mais nos afasta [da estagflação] é a dinâmica do mercado de trabalho”, frisou, sublinhando o “enorme sucesso na retenção e contenção do emprego.”