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Pico da inflação global já foi ultrapassado? Indicadores apontam que sim
JORNAL DE NEGÓCIOS


Os preços das matérias-primas, preços no produtor, taxas cobradas no transporte marítimo e expectativas dos consumidores e empresas sobre os preços são quatro indicadores que servem para "medir o pulso" à inflação global. E os quatro apontam para que a inflação tenha já atingido o pico. Isso significa que os preços devem começar a abrandar nos próximos meses.

A travagem registada nesses quatro indicadores, que dão uma indicação precoce das tendências que afetam a inflação, sugerem que as pressões sobre os preços nas cadeias de abastecimento globais estão a diminuir, depois de terem atingido níveis recordes e terem pressionado um aumento dos preços numa primeira fase. Isso faz prever que os preços ao consumidor venham a sentir esse alívio nos próximos meses.
A expectativa é partilhada por vários economistas ouvidos peloFinancial Times. Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics, indica que "a inflação provavelmente está no pico" e "a diminuição das pressões sobre os preços e dos constrangimentos na entrega de mercadorias prenunciam um abrandamento nos preços ao consumidor". Tal acontece depois de a inflação global ter atingido um recorde de 12,1% em outubro, segundo as estimativas da Moody's.

Também a Capital Economics antecipa que a inflação já tenha atingido o pico nos mercados emergentes, com os preços a recuarem em países como o Brasil, Tailândia ou Chile, apesar dos avanços e recuos registados. E, nos países mais desenvolvidos, o "think tank" britânico destaca que há sinais de enfraquecimento nas pressões sobre os preços.

"A nossa estimativa é que o efeito-preço dos alimentos e da energia vão reduzir, em conjunto, cerca de 3 pontos percentuais dos índices de preços ao consumidor das economias avançadas, em média, nos próximos seis meses", refereJennifer McKeown, economista-chefe da Capital Economics, que antecipa que a inflação global comece a cair a partir de 2023.

A concretizar-se essa previsão, seriam boas notícias para os bancos centrais, que têm vindo a aumentar as taxas de juro a um ritmo acelerado para conter a inflação, arriscando empurrar a economia mundial para a recessão.

Riscos ameaçam atrasar descida de preços
Com os preços das matérias-primas a abrandarem, à medida que a procura enfraquece,é de esperar que os preços elevados da energia, impulsionados pela guerra na Ucrânia, estabilizem em 2023. Mas nem todos os economistas estão de acordo e há quem estime que os custos da energia devem manter-se altos e atrasar a descida da inflação.

Susannah Streeter, analista sénior da Hargreaves Lansdown, argumenta que "o preço do petróleo deverá permanecer altamente sensível às restrições de oferta e à iminente proibição da União Europeia ao petróleo russo", o que deverá continuar a alimentar a inflação no Reino Unido e na Zona Euro. Diz ainda que há o risco de os preços das matérias-primas subirem novamente, caso aeconomia chinesa apresente uma forte recuperação.

Mas, por enquanto, os sinais são positivos. Na Alemanha, os preços no produtor caíram 4,2% em outubro, sendo este a maior queda mensal desde 1948. O mesmo cenário verifica-se em quase todas as economias do G20, com destaque para Espanha, México, Polónia e Portugal. Já nos Estados Unidos e Reino Unido, os preços no produtor estão a desacelerar desde o verão.

Jáíndice de preços de alimentos da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) desacelerou para 1,9%, depois de ter atingido um pico de 40% em maio de 2021. Já o preçode referência europeu do gás TTF está abaixo de 130 euros por MWh, abaixo do pico de 311 euros em agosto.

Por outro lado, as taxas globais cobradas sobre o transporte marítimo regressaram a níveis pré-pandemia, após terem aumentado mais de cinco vezes devido a constrangimentos nas cadeias de abastecimento.