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Veículos elétricos prometem trazer rendimento extra para os condutores
DINHEIRO VIVO


Embora os condutores que consideram ter um veículo elétrico (VE) possam imaginar que o benefício principal das suas viagens seja uma menor poluição, as baterias dos VE também poderiam ser uma fonte de rendimento extra para seus os proprietários - e ajudar os países a estabilizar as redes elétricas.
Esta ideia é baseada num facto simples: os veículos estão parados muito mais frequentemente do que estão em movimento.

Energia de estacionamento

"Os veículos estão estacionados 95% do tempo, por isso podem oferecer flexibilidade ao fornecer eletricidade quando há mais procura e armazenando-a quando há menos procura", disse Joana Mundó Olivé, diretora executiva da consultora Ecoserveis em Espanha. "Tal pode ajudar a equilibrar a rede e, ao mesmo tempo, o utilizador final pode receber um rendimento adicional."

A Ecoserveis lidera o projeto V2Market financiado pela UE, que visa explorar como as baterias dos VE podem ser integradas na rede de eletricidade. Servem como capacidade de armazenamento para as redes elétricas nacionais, permitindo aos proprietários dos automóveis vender energia às redes quando esta é necessária.

A tecnologia Vehicle-to-grid (V2G) oferece respostas potenciais a dois grandes desafios para a sociedade, uma vez que procura contrariar as ondas de calor, tempestades e inundações mais frequentes - e cada vez mais severas - resultantes das alterações climáticas.

Uma delas é a redução de emissões dos transportes, que representam cerca de um quarto das descargas de gás com efeito de estufa da UE. A segunda é o aumento da utilização de energias renováveis como a eólica e solar, cuja natureza intermitente é um quebra-cabeças para os operadores da rede elétrica.

A UE deu à indústria automóvel um grande impulso regulamentar para acelerar o desenvolvimento de veículos elétricos, concordando em proibir a venda de automóveis novos com motor de combustão a partir de 2035. Um projeto de regulação europeia separado aumentaria o número de estações de carregamento para os condutores de VE em toda a UE.

Para os consumidores, poder ganhar dinheiro através da venda de energia à rede elétrica deve ajudar a encorajá-los a optar por automóveis elétricos.

Regras do jogo

Após os estudos de mercado iniciais, o V2Market está a concentrar-se na forma como os contratos que regem as relações comerciais entre fornecedores de energia, a rede elétrica, os fornecedores de infraestruturas de carregamento e os proprietários de VE serão constituídos. Esta pluralidade de agentes inclui também empresas - conhecidas como agregadores - que negociam com os serviços públicos em nome dos consumidores.

O V2Market, que decorre até 2024, planeia testes-piloto na área metropolitana de Barcelona, Espanha, no final deste ano, envolvendo veículos municipais e proprietários de VE individuais.

Estes ensaios contribuirão para o outro grande objetivo do projeto: aumentar a sensibilização do público e encorajar os decisores políticos em mais países a adotar as regras necessárias para que a V2G emerja em larga escala. Atualmente, poucos países aprovaram legislação sobre esta matéria.

"São necessárias leis que permitam esta relação comercial da venda de eletricidade ou capacidade para a rede", disse Mundó Olivé. "É também preciso regular os impostos e o papel do agregador. Há novas relações a construir entre os diferentes agentes do mercado."

O V2Market irá analisar os dados relativos ao consumo de eletricidade e flutuações nos preços de energia em diferentes alturas do dia para ajudar as pessoas a prever as melhores horas para consumir energia ou fornecê-la à rede. Os alertas enviados aos utilizadores através de uma aplicação irão aconselhá-los a carregar as baterias dos seus automóveis quando a energia está mais barata e a vendê-la à rede quando está mais cara.

O projeto explora também a possibilidade de um proprietário de um veículo elétrico pagar para utilizar a bateria do VE, que pertenceria a um agregador, em vez de a comprar diretamente. De acordo com Mundó Olivé, esta ideia, conhecida como «servitização», poderia reduzir o gasto inicial de um VE em cerca de 10 mil euros.

Carregamento avançado

Noutro ponto da esfera dos VE, os investigadores e as startups estão a avançar com outros passos tecnológicos importantes. Um deles é o carregamento automatizado da bateria, que maximiza o tempo de ligação do veículo à rede.

O carregamento automatizado é um pré-requisito para o carregamento inteligente, no qual um VE e um dispositivo de carregamento partilham uma ligação de dados. Esta ligação permite ao proprietário do automóvel monitorizar e gerir o processo de carregamento, aproveitando da melhor forma a oferta e procura de eletricidade. Por outro lado, o carregamento inteligente permite que a bateria do veículo seja utilizada para a V2G. O carregamento automatizado foi o foco do projetoMatrix Chargingfinanciado pela UE, que terminou em 2020.

Liderado pela startup austríaca de alta tecnologia Easelink, o projeto desenvolveu uma tecnologia que carrega automaticamente a bateria de um VE estacionado.

O VE estaciona sobre uma plataforma especial, surge um conector por baixo do automóvel e os dois encontram-se para carregar a bateria, comunicando através de uma ligação segura por wi-fi.

A plataforma pode ser instalada num espaço público, utilizada ao ar livre ou instalada numa garagem privada, de acordo com Hermann Stockinger, fundador e CEO da Easelink. A empresa procura agora comercializar o produto através do licenciamento da tecnologia.

"No que toca a ganhar dinheiro com o armazenamento de baterias, possuímos uma tecnologia-chave", disse Stockinger, que tem uma formação em engenharia mecânica e trabalhou para a fabricante de automóveis alemã BMW antes de fundar a Easelink em 2016.

Acredita que o apoio da UE tem ajudado a fomentar o interesse da indústria no sistema de carregamento.

A empresa está inicialmente focada no licenciamento do sistema de reequipamento dos veículos elétricos existentes - uma operação que pode custar cerca de 2500 euros e demorar três a quatro horas - como a forma mais rápida de aumentar a escala.

Espera-se que os táxis, veículos e utilizadorespremiumsejam os grupos-alvo iniciais.

A Easelink está também a colocar a plataforma em funcionamento em praças de táxis em Viena e Graz na Áustria através de uma iniciativa austríaca de energia e clima para eletrificar as frotas de táxis.

A partir de meados de 2023, serão criadas cerca de 60 estações de carregamento automático no maior projeto deste tipo na Europa.

Redes mais ecológicas

De modo mais geral, ao assegurar que a bateria está a carregar sempre que o veículo está estacionado, a plataforma pode ajudar os proprietários a maximizar os rendimentos das suas baterias, de acordo com Stockinger.

"Não existe o fator humano de se lembrar de o ligar", disse. "É possível configurar um processo completamente automatizado."

Em última análise, a obtenção de uma maior quota de energias renováveis exigirá um sistema de carregamento inteligente generalizado que o carregamento automatizado está a aproximar cada vez mais.

"Esta é uma tecnologia-chave para lidar com a volatilidade das fontes de energias renováveis", disse Stockinger. "Se os veículos estiverem ligados à rede mais frequentemente, podem ser carregados durante o momento ideal em que a energia ecológica está disponível."