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Confinamento suave não evita quebra na confiança
Jornal de Negócios


Por toda a Europa, as expectativas sobre a economia estão de novo a deteriorar-se e Portugal, mesmo resistindo a adotar as medidas duras de confinamento tomadas por países como Espanha, França ou Grécia, não fugiu à regra. Pelo contrário, a confiança dos agentes económicos deteriorou-se mais em Portugal do que na média da União Europeia e da Zona Euro. Os números divulgados por Bruxelas sugerem que as economias do sul continuam a ser mais fustigadas do que no centro e norte da Europa, provavelmente devido à maior dependência face ao turismo, setor especialmente atingido pela crise pandémica.

Portugal tem resistido a tomar medidas restritivas mais drásticas ao contrário de outros países como Espanha, França e Itália. O Governo não esconde a sua preocupação: evitar que um agravamento excessivo das restrições provoque um choque na economia ainda maior. Não sendo possível apurar como estaria a confiança dos agentes económicos se as medidas fossem mais duras, pode-se comparar a evolução dos indicadores nacionais com os dos restantes países europeus.

Os dados divulgados na sexta-feira pela Comissão Europeia deixam a nu as fragilidades de uma economia aparentemente menos vigorosa e de um país onde a curva dos novos casos de infeção, por milhão de habitantes, ultrapassou quase toda a Europa nas duas últimas semanas de novembro. A confiança dos agentes económicos, em Portugal, medida pelo indicador de sentimento económico, caiu 4,2 pontos percentuais em novembro face ao mês anterior, superando a quebra média da União Europeia (3,6) ou da Zona Euro (3,5). É a 11ª pior variação entre os países da União Europeia (incluindo o Reino Unido). O pessimismo dos portugueses em tempo de pandemia faz-se notar também nas expectativas em relação à indústria, ao consumo ou aos serviços, cujo setor tem estado numa quebra vertiginosa por causa da ausência de turistas.

É verdade que Portugal não compara bem a nível em novembro, mas “o mau desempenho relativo de Portugal nos indicadores de confiança já vem de trás, antes da crise pandémica”, lembra o economista e professor do ISEG, António da Ascensão Costa, frisando que já “em outubro, o sentimento económico só tinha recuperado 60% da quebra”, quando “na zona euro a recuperação era de 84%”.

Apesar disso, António da Ascensão Costa aconselha prudência na interpretação destes “indicadores qualitativos”, rejeitando que se possam “fazer avaliações sobre as políticas seguidas pelo Governo” ou sequer extrapolações sobre a evolução quantitativa futura da economia.

A tendência de quebra da confiança é transversal ao continente europeu. “As quedas confirmam que os novos confinamentos e restrições impostos em novembro afetaram largamente os serviços e o comércio”, observa a consultora Capital Economics. Ainda assim, a empresa britânica destaca que os indicadores “se mantêm bastante acima dos níveis de abril, possivelmente apoiados pelo otimismo em torno de uma vacina no próximo ano e por restrições menos severas”.

Estes dados qualitativos e de sentimento acabam por reforçar a ideia já retirada dos dados quantitativos conhecidos até aqui de que as economias do sul, designadamente Portugal, Espanha e França, estão a ser mais castigadas pela crise, em grande medida devido à sua maior dependência face ao turismo, setor particularmente atingido pela pandemia.

Portugal na Zona Euro

A menor intensidade das medidas restritivas em Portugal é visível no indicador criado pela Universidade de Oxford em parceria com o governo britânico. As restrições portuguesas merecem atualmente a pontuação de 66,2 na escala de intensidade, que varia entre zero a 100, sendo que 0 descreve a total ausência de medidas. Os 71,3 atribuídos a Espanha revelam um cerco mais apertado à mobilidade dos cidadãos e à economia, contudo, o otimismo dos agentes económicos espanhóis, embora afetado, superou o dos portugueses em novembro. França e Grécia contam 78,7 pontos, mas nem por isso os indicadores de confiança evoluíram pior do que em Portugal.

Já os alemães apresentam elevados níveis de confiança na sua economia (que é a maior da zona euro), segundo o estudo da Comissão Europeia. Apesar do encerramento de bares, restaurantes e ginásios, o indicador de sentimento económico dos germânicos escorregou muito pouco em relação a outubro. As expectativas para o emprego chegaram até a melhorar.


Confiança cai por toda a Europa

A segunda vaga provocou um abalo na confiança dos agentes económicos por toda a Europa, mas o grau do impacto varia consoante o país e o setor. Comparando com um conjunto de cinco países - com níveis de contágio e de restrições muito diferentes - Portugal não parece diferenciar-se, apesar de ter adoptado medidas menos restritivas.