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Juros do crédito para a casa já disparam e não vão parar por aqui
JORNAL DE NEGÓCIOS


Os juros a que os bancos emprestam dinheiro às famílias têm subido em linha com a evolução das taxas de referência na Zona Euro. A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação aumentou para 1,06% em abril, o valor mais elevado desde julho de 2020, segundo dados divulgados esta quinta-feira pelo Banco de Portugal. Com a Euribor em tendência crescente, as famílias vão pagar mais pelo crédito.

“O agravamento é natural”, considera Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros, apontando a subida das Euribor, que têm agravado desde fevereiro face à expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) suba as taxas de juro diretoras este ano devido à escalada da inflação na Zona Euro no seguimento da invasão da Ucrânia pela Rússia.

No prazo a seis meses, a taxa Euribor – a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação – está em -0,017%, em máximos de dezembro de 2015. A três meses, a Euribor também subiu ontem para -0,327%, máximo desde junho de 2020. No mesmo sentido, a 12 meses, a taxa avançou para 0,45%, o valor mais elevado desde setembro de 2014.

“Isso não é tão preocupante para os novos empréstimos do que para os antigos. Essencialmente para os créditos desde 2015”, considera Filipe Garcia sobre a inversão das perspetivas para os juros da casa. É que a maioria do crédito em Portugal é concedido a uma taxa de juro variável, à qual acresce o “spread” cobrado pelos bancos. “Ao nível dos ‘spreads’ não espero grande alteração, dos indexantes é o que já se sabe. O que se espera é que continuem a subir neste ano e no próximo, pelo menos. Há o risco das famílias terem contrato o crédito considerando o que podiam pagar nessa altura e agora terem dificuldade em fazer face ao agravamento das prestações”, alerta o presidente da IMF.


Novas restrições ao crédito levam a alívio

O ritmo de financiamento para a compra de casa abrandou, em abril, o mês em que entraram em vigor as novas restrições ao crédito à habitação. Foram concedidos nesse mês 1.320 milhões de euros em novos empréstimos para a aquisição de habitação, o que representa uma descida de 22% face ao emprestado em março.

A queda das novas operações coincide com a entrada em vigor das restrições ao crédito, no seguimento de uma atualização da medida macro prudencial do Banco de Portugal para o crédito. Desde o início de abril que os novos financiamentos devem ter uma maturidade máxima de 40 anos apenas para mutuários com idade inferior ou igual a 30 anos. Já para quem tem entre 30 e 35 anos, o prazo máximo recomendado desce para 37 anos, reduzindo-se outros dois anos, para um prazo máximo de contrato de 35 anos, para mutuários com mais de 35 anos. O objetivo é caminhar para uma “convergência gradual para uma maturidade média de 30 anos até final de 2022”, o que não estaria a acontecer.

Também nas outras finalidades de crédito foi registada uma quebra face aos montantes emprestados em março. O crédito para consumo diminuiu para 416 milhões de euros e o crédito para outros fins cedeu para 175 milhões de euros em abril. No total dos empréstimos a particulares, os bancos concederam 1.910 milhões de euros.