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AVIAÇÃO: A JORNADA ATÉ ÀS ZERO EMISSÕES DE CO2
AMBITUR


Sustentabilidade é uma prática que já há muito faz parte da estratégia do Turismo. E, hoje, é mesmo um requisito para quem viaja, pois a procura por destinos mais verdes está em crescimento. Contudo, o caminho da sustentabilidade nem sempre é fácil e existem atividades dentro do setor que demoram mais tempo nesta jornada que se pretende verde e transparente. É o caso daaviaçãoque, apesar dos desafios, integra uma política ambiental assente em vários compromissos: atingir emissões de carbono zero até 2050 é, apenas, uma das metas.

Maria João Calha

Começando pela companhia de bandeira nacional, o compromisso ambiental traduz-se em promover a eficiência e proteger o Ambiente. “A TAP procura ser mais eficiente na sua atividade, respondendo aos desafios que surgem diariamente nas operações e que vão para além da atividade de transporte aéreo, estendendo-se também às instalações e à atividade industrial de manutenção e engenharia”, começa por assegurar Maria João Calha, gestora de Sustentabilidade da TAP. Consciente do impacte ambiental da sua atividade, a companhia definiu, portanto, uma estratégia de atuação assente em quatro pilares: “Eficiência energética e emissões de CO2” “Resíduos”; “Redução da utilização de plástico descartável”; e “Ruído”. Ao nível de metas ambientais, a gestora de Sustentabilidade lembra que, em 2021, a TAP apoiou a Resolução da IATA adotando o objetivo coletivo de atingir emissões de carbono zero até 2050: “Várias iniciativas estão a ser avaliadas na definição do roadmap para alcançar este objetivo em 2050, mas com grande foco nas opções de combustíveis sustentáveis para a aviação, planeamento de novas tecnologias de aeronaves e soluções energéticas eficientes no Campus TAP, em Lisboa”. Melhorar a eficiência energética média anual das operações de voo em 2% e as emissões de CO2 por passageiro num percurso de 100 km em 20% até 2025 são algumas das metas da TAP. Relativamente aos plásticos de utilização única nos voos TAP, o foco é “reduzir os mesmos em 80% até 2025”, precisa.

Partindo do princípio de que a sustentabilidade ambiental é tida como um “fator essencial” para o desenvolvimento da organização e do negócio, oGrupo SATAintegra uma política ambiental de vários compromissos que incluem “identificar e avaliar os aspetos e impactos ambientais”, “Promover a eficiência energética”, “Reduzir e valorizar os resíduos” e “Fomentar a economia circular”. De acordo com aDireção de Sustentabilidade do Grupo SATA, a companhia já tem um conjunto de metas com as quais está comprometida: para 2023, o foco passa por “eliminar o plástico descartável a bordo das aeronaves” e, em 2025, a atuação prende-se na “redução em 20% das emissões de CO2, face a 2005”, um valor que aumenta para 55%” em 2030, assim como a redução em “20% do consumo de eletricidade nas instalações, face a 2015”. O ano 2050 tem como meta “atingir a neutralidade carbónica” e “usar um mínimo de 63% de SAF (Sustainable Aviation Fuel)”, assim que disponível. Sendo estas metas para o médio-prazo, a SATA já tem feito a sua jornada, com a redução visível do “plástico descartável”, bem como o “consumo de combustível e de eletricidade, de papel e de outros consumíveis”, além da “redução das emissões de carbono”. Na resposta aos requisitos dos passageiros, a SATA procura corresponder às necessidades, tendo o cuidado de utilizar o menor número possível de recursos: “Temos de colocar mais investimento e esforço na transformação. É uma questão de responsabilidade ambiental e social, é certo, mas, no final da linha será também uma questão de sobrevivência económica”, sustenta.

José Lopes

Com o objetivo de transformar a aviação numa indústria cada vez mais sustentável, aeasyJetintegra como prioridade a redução das emissões de carbono, tendo definido uma estratégia assente em três pilares: “mitigar estas emissões, estimular a inovação e, ainda, ir para além do carbono”, afirmaJosé Lopes, diretor geral da easyJet Portugal. Para acelerar o desenvolvimento de tecnologias de emissão de carbono zero, a companhia tem trabalhado com parceiros de toda a indústria: “Estamos otimistas para operar em aviões sem carbono a partir de meados de 2030, fazendo esta transição assim que as novas tecnologias estejam disponíveis e comercialmente viáveis”. Com base nesta premissa, em novembro de 2021, a companhia juntou-se à “Race to Zero”, comprometendo-se a atingir a emissão líquida de carbono zero até 2050. Como foco nos viajantes, a easyJet já compensou “mais de 6 milhões de emissões de carbono do combustível utilizado nos seus voos”: “Isto traduz-se numa redução das emissões de carbono por passageiro-quilómetro em mais de um terço nos últimos 20 anos – e prometemos não ficar por aqui”.

Thomas Fowler

Comprometida com a inovação sustentável e com o Acordo de Paris, aRyanairintegra a estratégia “Pathway to Net Zero Emissions”, centrando “esforços para inovar e promover práticas ambientais sustentáveis em todos os negócios”. Entre os compromissos da companhia low cost,Thomas Fowler, Director Of Sustainability and Finance da Ryanair, destaca o “investimento em aviões com tecnologia avançada”, a “redução em 10% das emissões de CO2 por quilómetro até 2030”, o “uso de 12,5% de combustíveis sustentável até 2030”, ser “neutra em emissões até 2050” e “uma classificação CDP ‘A’ nos próximos dois anos”. Também em matéria de compensação, a Ryanair, através do Carbon Offset Scheme, oferece a possibilidade aos passageiros de o fazerem voluntariamente através de um contributo ou da Calculadora de Carbono para compensar totalmente as emissões: “100% das contribuições dos clientes vão para nossos projetos climáticos”, como o “Renature Monchique”, fundado em parceria com o GEOTA, ICNF, o Turismo do Algarve e a Câmara Municipal de Monchique, para ajudar na reflorestação da região após os incêndios florestais de 2018.

Thibaud Morand

“Alterações climáticas, economia circular e valor partilhado” são três pilares que norteiam a estratégia global de sustentabilidade daLATAM Airlines, sendo que, um dos principais eixos é trabalhar na conservação e reabilitação de ecossistemas icónicos da América do Sul. Quem o diz éThibaud Morand, diretor-geral para a Europa da LATAM Airlines, destacando que a estratégia da empresa foi apresentada em plena pandemia, tendo como principal objetivo principal alcançar a neutralidade carbónica até 2050: “Estamos a realizar diferentes ações para o conseguir em termos de proteção dos ecossistemas da região como de outro tipo de compromissos”. Na LATAM, “estamos empenhados em fazer todos os esforços para compensar as nossas emissões com soluções baseadas na natureza, tirando partido do enorme património natural que temos”, assegura o responsável. Além disso, a companhia integra vários compromissos, como eliminar os plásticos de utilização única até 2023, gerar zero resíduos para aterro até 2027 ou compensar 50% das emissões domésticas até 2030”. A LATAM está ainda trabalhar para “reduzir a sua pegada de carbono”, através de programas como o CO2BIO.

Como tornar a atividade mais amiga do ambiente?

Ao nível de ações para tornar a atividade aérea mais verde, Maria João Calha afirma que, até 2019, a TAP tinha vindo a registar melhorias contínuas em vários indicadores de desempenho ambiental, refletindo uma “operação cada vez mais otimizada”. Contudo, a pandemia da Covid-19 fez com que alguns projetos ambientais fossem suspensos: “Apesar disso, em 2021, o indicador de eficiência energética e ambiental da TAP registou uma ligeira melhoria (0,6%) face a 2020”. Também a “sensibilização ambiental dos colaboradores” é um dos pontos-chave para alcançar com sucesso os compromissos assumidos com entidades externas. Ao nível da operação, a companhia aérea nacional tem também um conjunto de cuidados, como “assegurar uma das frotas mais modernas do mundo” que permite “reduzir até 20% o consumo de combustível e emissões de CO2”, além dos aviões serem “mais silenciosos”.

Apesar das políticas estarem bem alinhadas, há ainda desafios que dificultam o acelerar desta transição, nomeadamente, atingir as zero emissões de CO2 até 2050: “É um compromisso de todas as companhias aéreas membros da IATA que precisará de grande articulação com vários stakeholders”, diz a Direção de Sustentabilidade do Grupo SATA. Tratando-se de um processo em continua evolução, o Grupo procura tornar a atividade mais verde através da “modernização da frota” ou da “integração de Programas CELE e CORSIA” e no “Programa de Compensação Voluntária de Carbono com a IATA”. Tão importante é a renovação gradual dos equipamentos terrestres: “Somos signatários da Cartilha de Sustentabilidade dos Açores, o que nos coloca objetivos concretos a atingir e permite-nos reforçar a cooperação com o arquipélago”. A transformação digital é outra aposta da SATA, que já alocou um forte investimento a esta área e já são “notórios os contributos para a desmaterialização de processos, para a rapidez e eficiência”, exemplifica. Já ao nível da operação, tornar o voo mais verde é, hoje, uma prioridade: “Tudo concorre para que os objetivos traçados pela área da sustentabilidade sejam transversais a tudo o que fazemos, seja em terra ou a bordo”.

Centrada em tornar as operações cada vez mais sustentáveis, a easyJet tem dado passos significativos nesse sentido com, por exemplo “a implementação de uniformes de tripulação feitos de garrafas de plástico reciclado” ou a “substituição de artigos de utilização a bordo (bastante apreciado pelos passageiros), já tendo removido mais de 36 milhões destes”, exemplifica o diretor-geral da easyJet Portugal. Além disso, a companhia aérea foi a “primeira a experimentar a utilização de uma mistura de Combustível sustentável para a aviação (SAF)”, um substituto do combustível fóssil com o potencial de “reduzir as emissões de carbono até 80%”, declara José Lopes. Ciente dos desafios ambiciosos, o responsável refere que a easyJet tem procurado apelar à indústria e ao governo para trabalhar em conjunto, no sentido de se “produzir a tecnologia de emissão zero necessária para transformar”, defendendo que “as entidades governamentais devem fornecer incentivos financeiros para apoiar o desenvolvimento e a expansão” de tecnologias para o setor

É precisamente através da “Pathway to Net Zero Emissions” que a Ryanair procura conseguir uma operação mais amiga do ambiente e, assim responder ao desafio de tornar os voos mais verdes: “Vamos investir mais de 22 mil milhões de euros em aviões, o que vai permitir uma redução de 16% de combustível e de “até 40% do ruído”, declara Thomas Fowler. Este investimento acontece depois de, em 2021, a companhia irlandesa ter implementado o “handling elétrico em 11 grandes aeroportos europeus”, permitindo que a assistência seja feita “sem emissões”, com uma poupança de 1000 toneladas de Co2/ano. No entender do diretor de sustentabilidade e de finanças da Ryanair, os desafios que a aviação enfrenta requerem cooperação entre o setor e o Governo, cabendo a este fazer uma “nova reflexão sobre a forma como as novas políticas ambientais deixam de lado o tráfego de longo curso mais poluente”.

Para atingir o objetivo de neutralidade de emissões e, consequentemente, voos verdes, Thibaud Morand considera ser essencial integrar “tecnologia e novos combustíveis” que, segundos as previsões, só estarão disponíveis na próxima década. Uma vez que o tempo é, cada vez mais, escasso, a LATAM tem, portanto, procurado trabalhar com fabricantes de aviões e com a indústria energética para disponibilizar tais soluções o mais rapidamente possível e, ao mesmo tempo, centrar-se em reduzir a pegada de carbono através da conservação da natureza: “Até lá, todos nós no setor temos de estar conscientes de que as alterações climáticas exigem respostas imediatas e concretas de todos os atores da sociedade”, remata.